Linguagem e interação social: experiências didáticas com interlocutores reais
Resumo
Compreender a interação verbal como dialogia implica assumir que, ao interagir por meio da linguagem, o sujeito sempre tem um outro ao qual se direciona e leva em consideração no seu projeto de dizer (Bakhtin, 2003[1952-53]). A presença desse outro, portanto, é constitutiva das formas e usos da linguagem. Ocorre que em ambiente escolar, ajustando a lupa para as produções de textos escritos na escola regular, muitas vezes a presença de um outro ao qual os textos dos estudantes supostamente se dirigem, não passa de uma abstração. A partir dessa questão, desenvolvemos uma pesquisa-ação integral sistêmica em duas escolas públicas do Espírito Santo com o objetivo de fazer com que as produções de textos dos alunos se constituam em uma interação verbal real, com um interlocutor que realmente interaja com os textos. Assim, descrevemos o desenvolvimento de duas experiências didáticas que envolveram os gêneros discursivos “carta pessoal” e “carta argumentativa” no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, respectivamente, tendo como objetivo o encaminhamento das produções a interlocutores reais. Dessa perspectiva, constatou-se com o trabalho com os referidos gêneros nas aulas de Língua Portuguesa um significativo interesse dos alunos em relação à produção textual, assim como uma melhora sensível na qualidade dos textos produzidos.
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