ABORDAGENS DE ENSINO DE GRAMÁTICA NO LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS: RESSIGNIFICANDO CONCEITOS

Francisco Rafael Mota de Sousa, Mônica de Souza SERAFIM, Pollyanne Bicalho Ribeiro

Resumo


Uma breve análise sobre a história do ensino de língua materna no Brasil revela que grande parte das práticas pedagógicas, inclusive aquelas envolvendo o livro didático, esteve apoiada na apresentação, descrição e prescrição das regras da gramática normativa, usadas como modelo de boa linguagem e expressão. O desenvolvimento dos estudos linguísticos, porém, ao questionar essa centralidade da gramática no ensino de português, não só propôs um ensino de língua que estabeleça comparações, descrições e análises dos textos em situações concretas de produção, como contribuiu para a coexistência de diferentes abordagens de ensino de gramática na escola. Nesse sentido, o presente artigo busca refletir sobre tais abordagens a partir de uma revisão dos tipos de ensino de língua caracterizados por Halliday, McIntosh e Strevens (1974), em comunhão com os pressupostos de Bloom et al. (1972) ao tratarem sobre os objetivos educacionais. Para isso, analisamos alguns exercícios propostos em livros didáticos de língua portuguesa, ressignificando tais abordagens, seus conceitos e características no tratamento pedagógico dos conhecimentos linguísticos. Nossa análise constatou que o livro didático de língua portuguesa apresenta exercícios que correspondem a diferentes abordagens de ensino de gramática, mas que, ao tratar dos fenômenos gramaticais de um modo produtivo, o material se mostra falho, uma vez que não trata de modo constante os conhecimentos linguísticos em relação aos seus aspectos contextuais, numa visão enunciativo-discursiva da linguagem. Tal fato, além de ir de encontro ao que propõem os documentos oficiais, prejudica o desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes, pois impede o ensino dialógico, alteritário, que defenda a língua/linguagem viva, heterogênea e dinâmica.

Palavras-chave: Abordagens de ensino de gramática. Ensino dialógico. Objetivos educacionais. Livro didático.

DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v10i2.3231

 


Referências


ANTUNES, I. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.

ANTUNES, I. Gramática contextualizada: limpando “o pó das ideias simples”. São Paulo: Parábola, 2014.

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007.

AVELAR, J. Saberes gramaticais: formas, normas e sentidos no espaço escolar. São Paulo: Parábola, 2017.

BAGNO, M. Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia & exclusão social. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2008.

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.

BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

BELTRÃO, E.; GORDILHO, T. Novo diálogo. São Paulo: FTD, 2006.

BLOOM, Benjamin et al. Taxionomia de objetivos educacionais: domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo, 1972.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: introdução: 5ª a 8ª séries do ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1998.

BRITO, Luiz P. L. À sombra do caos: ensino de língua x tradição gramatical. Campinas: Mercado de Letras, 1997.

HALLIDAY, M.; McINTOSH, A.; STREVENS, P. As ciências linguísticas e o ensino de línguas. Petrópolis: Vozes, 1974.

MARCHETTI, G.; STRECKER, H.; CLETO, M. Para viver juntos: português, 9º ano do ensino fundamental. São Paulo: Edições SM, 2008.

MATTOS E SILVA, R. V. Contradições no ensino de português. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2011.

NEVES, M. Gramática na escola. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

NEVES, M. Que gramática estudar na escola?: norma e uso na língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Contexto 2008.

OLIVEIRA, T.; ARAÚJO, L. Tecendo linguagens: língua portuguesa: 7º ano. 5. ed. Barueri: IBEP, 2018.

PEREIRA, C.; BARROS, F.; MARIZ, L. Universos: língua portuguesa, 7º ano, 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2015.

PERINI, M. Por uma nova gramática do português. 11. ed. São Paulo: Ática, 2007.

POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

SOUZA, C.; CAVÉQUIA, M. Linguagem: criação e interação — 8ª série. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

TRAVAGLIA, L. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

TRAVAGLIA, L. Gramática: ensino plural. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

UCHÔA, C. O ensino da gramática: caminhos e descaminhos. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Trad. Sheila Grillo e Ekaterina V. Américo. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2018.


Texto completo: PDF

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 .

QUALIS/CAPES - quadriênio 2013-2016B2 - ÁREA DE LINGUÍSTICA E LITERATURA

 

Indexadores de Base de Dados (IBDs) 
Bases de periódicos com texto completo: