CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMA TRÁGICA NA TRAGÉDIA E NO ROMANCE: ANTÍGONA E FOGO MORTO COMO A REPRESENTAÇÃO DO CONFLITO INDIVIDUAL E SOCIAL
Resumo
Este artigo pretende, a partir da interpretação hegeliana da tragédia Antígona, discutir como o elemento trágico pode ser revelador do traço individual e social, naquilo que diz respeito à formação histórica. Na leitura de Hegel, a peça de Sófocles cria um conflito entre a ordem familiar e a esfera pública. A tensão entre a natureza subjetiva e o lastro cultural constrói o trágico, que, para além da tragédia, é apresentado como um modus reflexivo a compor outros gêneros literários, como, por exemplo, a forma romanesca. No romance, o conflito trágico pode levar a discussão entre o desejo individual e os limites impostos pela sociedade, encerrando uma esfera-paradoxo, na qual princípios e valores excludentes estão simultaneamente presentes. Especificamente em Fogo morto, o trágico configura a fatura do texto, sendo representativo dos destinos das figuras assim como do próprio sistema nacional, marcado por um processo de progresso conservador. Essa comunicação sobre a forma trágica busca afirmar como o teatro e seus elementos tem relação com a cultura a ponto, até mesmo, de influir em outros gêneros literários, tornando-os, ao mesmo tempo, específicos e pertencentes a uma universalidade. A partir da discussão teórica - implementada por Peter Szondi, Raymond Williams e Terry Eagleton - é possível entender que tanto Antígona quanto Fogo Morto revela concepções de trágico comuns à cultura que pertencem, demonstrando que a arte é uma manifestação do mundo sensível, relegando, assim, a possibilidade de ser um mero produto de regras e imitações.
DOI: https://doi.org/10.47295/mren.v5i2.1186
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