MUDANÇAS FONÉTICAS NO PORTUGUÊS ANGOLANO: DOS SONS AFRICADOS AOS FRICATIVOS
Resumo
Este estudo propõe uma análise descritiva acerca das mudanças fonéticas geradas aquando da passagem de unidades linguísticas – cujas sílabas são marcadas por sons africados, convertidos em sons fricativos – do contexto oral das línguas bantu para o do português falado e escrito em Angola. Tendo como objetivo a descrição periodológica dos processos linguísticos que conduziram a variante do português angolano a este estágio de enfraquecimento de africadas, este estudo é sustentado multidisciplinarmente pelas áreas da Linguística Histórica e da Fonologia, com auxílio das quais são interpretados os processos fonético-fonológicos e históricos que justificam esta conversão. Os dados revelam que o enfraquecimento de sons africados teve o seu ponto alto na norma padrão do português europeu entre os séculos XVIII e XX, durante o português clássico. Com recurso à onomástica e a um corpus linguístico disponível no site do Governo angolano com cerca de 4500 referentes antroponímicos, procedeu-se a uma análise com enfoque na frequência com que diversos nomes são escritos dada a flutuação gráfica e oral de uma mesma unidade linguística. Percebeu-se que, em contextos mais induzidos ao uso do português, há maior incidência de unidades com desafricamento, mormente em ataque silábico. Este estudo se centra sobretudo no domínio da escrita bem como na oralidade.
DOI: https://doi.org/10.47295/mren.v10i6.3708
Palavras-chave
Referências
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