TRÂNSITOS GEOGRÁFICOS NO ENTREMEIO DE TEMPOS SOMBRIOS E DE DESAMPARO: CONTOS DO IMIGRANTE, DE SAMUEL RAWET

Carlos Augusto Magalhães (UNEB), Nathalia Louise Silva (UNEB), Bruna Jesus Silva (UNEB)

Resumo


A modernidade e a contemporaneidade, entre outros aspectos, também se caracterizam por possibilitar numerosos e constantes deslocamentos populacionais. Esses movimentos contemplam desde viagens turísticas até transladações migratórias em que se objetivam conquistas de melhores condições de vida fora da terra de origem, de berço. Tudo seria regido por gestos e intuitos tidos hoje como comuns e sem surpresa e de natureza coletiva e uniforme. Na antologia Contos do imigrante, de Samuel Rawet (1998), para além das demandas pragmáticas do deslocado, sua não convivência com o tempo-espaço de origem gera desestabilizações emocionais. Os contos apontam para a singularidade existencial das subjetividades em crise, diante dos estágios sombrios e agudos de desamparo. Há, igualmente, saudáveis interações com o Outro por meio das quais se engendraria “uma modalidade específica de organização subjetiva, um molde para as experiências individuais”. (MEZAN, 2002, p. 258). O artigo busca observar as representações não só de aspectos interligados com os infortúnios do imigrante polonês no Brasil, mas também intenta refletir sobre os meandros das subjetividades e das trocas culturais que tanto enriquecem os sinuosos trânsitos geográficos modernos e contemporâneos. O texto pretende realçar a originalidade com que os contos se apresentam bem como os recursos imagísticos por meios dos quais o escritor desenvolve a narrativa e mergulha nos personagens.

Palavras-chave: párias; migrantes; trânsitos geográficos; subjetividade; singularidade; metáfora.

 

DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v9i2.2296


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