Quando a fé anuncia o pathos: figurações do erotismo em “Melhor do que arder”, de Clarice Lispector
Resumo
Calcada sob os mandamentos de cada cultura, a relação do homem com o erótico (des)vela algumas de suas inquietações mais arcaicas, na medida em que o obriga a confrontar uma dimensão tão íntima, que, não raro, confunde-se com seu próprio fim. Ao longo dos tempos, filósofos, poetas e místicos procuraram, através dos mais diversos meios, dar sentido à experiência erótica, no intuito de compreender essa misteriosa ânsia que, ao nos impelir para o encontro do próximo, denuncia nossa incompletude. No caso do Ocidente, com a ascensão e posterior consolidação da cosmovisão judaico-cristã, operou-se uma verdadeira “demonização” do erótico, que, a partir de então, angariou para si os signos do pecado, do abjeto e do mortífero. O degredo ao qual o erótico foi condenado reformulou os termos pelos quais temos acesso e vivenciamos essa esfera da experiência humana, estabelecendo-se, assim, um distanciamento contínuo entre corpo e espírito, carne e alma, que, amiúde, desperta sentimentos de culpa e pesar. É o que se desenha no quadro subjetivo de “Melhor que arder”, de Clarice Lispector. O conto, publicado pela primeira vez no ano de 1974, encena o drama de Clara, uma jovem mulher que, confinada nos muros de um convento, digladia-se com seu próprio desejo sexual. Isto posto, pretendemos, neste trabalho, realizar uma leitura da narrativa em questão, com vistas a examinar as vicissitudes da pulsão erótica quando esta é aparentemente silenciada, além das potencialidades subversivas que o texto literário atinge quando se debruça sobre esse terreno instável que é a sexualidade humana.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Erotismo. Clarice Lispector.
DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v9i3.2341
Referências
A BÍBLIA. Tradução de João Ferreira Almeida. Rio de Janeiro: King Cross Publicações, 2008. 1110 p. Velho Testamento e Novo Testamento.
BATAILLE, Georges. O erotismo. Tradução de Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
BRANCO, Lucia Castello. O que é erotismo? In: MILAN, B; BRANCO, L. C; MORAES, E. R; LAPEIZ, S. M. O que é amor, erotismo, pornografia? São Paulo: Círculo do Livro; Editora Brasiliense, 1984, pp. 65 – 108.
LISPECTOR, Clarice. Melhor do que arder. In: LISPECTOR, Clarice. Todos os contos. Organização de Benjamin Moser. Rio de Janeiro: Rocco, 2016, p. 582 – 584.
MAINGUENEAU, Dominique. O discurso pornográfico. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
MIRANDA FILHO, Mário. Nota sobre Eros em O banquete de Platão. Ide, São Paulo, v. 34, n. 52, p. 43 – 56, ago. 2011.
MORAES, Eliane R. Da lira abdominal. In: MORAES, Eliane R. (org.). Antologia da poesia erótica brasileira. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2015, pp. 17 – 48.
MORAES, Eliane R; LAPEIZ, Sandra M. O que é pornografia? In: MILAN, B; BRANCO, L. C; MORAES, E. R; LAPEIZ, S. M. O que é amor, erotismo, pornografia? São Paulo: Círculo do Livro; Editora Brasiliense, 1984, pp. 109 – 171.
PLATÃO. O banquete. Tradução de J. Cavalcante de Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 .
QUALIS/CAPES - quadriênio 2013-2016: B2 - ÁREA DE LINGUÍSTICA E LITERATURA
Indexadores de Base de Dados (IBDs)
Bases de periódicos com texto completo:
|
|
|