A MANIFESTAÇÃO DO INSÓLITO N'AS NAUS

Giseli Seeger (UFSM), Raquel Trentin Oliveira (UFSM)

Resumo


Em seus romances, António Lobo Antunes combina uma ostensiva subversão dos modos convencionais de narrar com formas muitos singulares de relacionamento com o real. Sob a chave de leitura da “manifestação do insólito”, buscamos compreender o modo como o universo ficcional de As naus (1988) subverte os princípios físicos e lógicos que julgamos regentes do mundo extraliterário, refratados pelos paradigmas tradicionais da ficção. Nesse romance, o autor metaforiza o drama dos “retornados” através do regresso das caravelas das Conquistas à Lisboa pós-Revolução. Além de terem sobrevivido a seu tempo histórico, manifestando uma existência de cinco séculos, personagens como Pedro Álvares Cabral, Luís Vaz de Camões e Vasco da Gama habitam um universo espaciotemporal excepcional, no qual a cronologia, a causalidade e a linearidade são abaladas em benefício de uma significativa fusão entre passado e presente. Procuramos demonstrar que o recurso ao insólito privilegia a transfiguração da realidade no plano da criação ficcional de sorte a descobrir sob a realidade portuguesa facetas pouco evidentes numa interpretação superficial da História. Nossa leitura busca suporte nas contribuições de Carlos Reis e David Roas sobre o insólito ficcional e em leituras críticas de Eduardo Lourenço e Margarida Calafate Ribeiro sobre as articulações entre a ficção e a História portuguesas.

PALAVRAS-CHAVE: As naus. Insólito. Universo espaciotemporal.

DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v7i2.1673


Referências


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