A FALTA DE LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO: AS CARACTERÍSTICAS DO PATRIMONIALISMO NO II REINADO NOS CONTOS “TEORIA DO MEDALHÃO” (1882) E “FULANO” (1884), DE MACHADO DE ASSIS

Rafael Lucas Santos da Silva (UEM)

Resumo


Trata-se aqui de demonstrar resultados de uma pesquisa que procura examinar como a produção literária do escritor Machado de Assis (1839-1908) expõe e problematiza a cultura política patrimonialista do II Reinado (1840-1889), tendo como corpus para análise os contos Teoria do medalhão (1882) e Fulano (1884). Ambos são narrativas muito significativas sob o ângulo da pretensão individual de galgar na sociedade o prestígio sociopolítico, por isso partimos do pressuposto de que o universo imaginário dos contos em questão possui uma organicidade, com visões de mundo que apontam para horizontes análogos. A nossa hipótese de leitura é de que a coerência interna das narrativas dos dois contos é constituída a partir da redução estrutural do Estado patrimonialista e do estamento-burocrático, fenômenos descritos e analisados pelo jurista Raymundo Faoro (1925-2003) no livro Os donos do poder. Ao longo da construção da análise, percebe-se como ambos os contos problematizam um estilo político em que o poder é arbitrário, originado por uma tradição que trata a coisa pública como privada, dificultando boas relações a nível entre Estado e Sociedade. Nessa perspectiva do nosso propósito, nos deparamos com a dimensão da cultura política das elites do II Reinado brasileiro, que se caracteriza pela predominância das relações familiares e as práticas de patronagem que se formam ao seu redor, perpetuando-se sob a base estrutural do Estado patrimonial.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasileira. Machado de Assis. Patrimonialismo no II Reinado. Estamento. Público e privado.

DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v7i2.1684


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