COGNIÇÃO E ESPIRITUALIDADE: O PAPEL DA FIGURATIVIDADE EM UM TEXTO RITUALÍSTICO DE DOUTRINAÇÃO DE ESPÍRITOS SOFREDORES

Bruno Santo (UNICAMP)

Resumo


Este trabalho busca, ao unir os aportes teórico-metodológicos da Linguística Cognitiva com os da Linguística Textual e ao perceber o valor histórico dos contatos do homem com a espiritualidade, refletir sobre como os membros de uma doutrina religiosa espiritualista criada no Brasil, intitulada Vale do Amanhecer, conceptualizam e tecem cognitivo-discursivamente o texto multimodal (verbal e gestual) responsável pela libertação de espíritos sofredores no ritual de mesa evangélica por meio de metáforas como: DOUTRINA RELIGIOSA É UM PRONTO SOCORRO, JESUS É A LUZ, SER HUMANO É UM ANIMAL, DEUS É UM AUXILIADOR, AMOR É UM REMÉDIO, PERDÃO É UM REMÉDIO, CORPO É UM RECIPIENTE e ESPÍRITOS SOFREDORES SÃO SUBSTÂNCIAS IMPURAS, a fim de obter a intencionalidade discursiva almejada: a elevação espiritual de entidades que estão presas na escuridão. Tal análise, além de reconhecer o papel das práticas religiosas para o surgimento de significações linguísticas particulares (averiguando como a figuratividade, a saber: a metáfora e os esquemas imagéticos, como enquadres de constituição textual, atuam potencialmente na construção argumentativa do texto ritualístico em questão, promovendo o aparecimento dos critérios de textualização), se insere, tanto na atual fase social da Linguística Cognitiva, que pondera em suas análises sobre os sujeitos e o universo que os caracterizam como seres imergidos em suas comunidades culturais, bem como no período sociocognitivo-interacionista da Linguística Textual, que visualiza e pauta o texto em seus diagnósticos como um processo que envolve diversos fatores como os neuropsicolinguísticos e corporais em sua arquitetura.
DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v8i2.1839

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