CONSIDERAÇÕES SOBRE AUTORIA, MEMÓRIA E ESCRITA AUTOFICCIONAL A PARTIR DO ROMANCE OUTROS CANTOS, DE MARIA VALÉRIA REZENDE
Resumo
O presente artigo analisa questões sobre autoria, memória e escrita autoficcional a partir do romance Outros cantos, da autora Maria Valéria Rezende. Partindo de Straub (2007), que defende que a forma como descrevemos o que aconteceu permanece constantemente em aberto, já que o sujeito reconstrói o tempo passado no presente a partir de relações de seletividade, relevância e estruturação simbólica, e entendendo o tempo próprio da lembrança como sendo o presente, conforme aponta Sarlo (2007), percebe-se na narrativa de Rezende a reunião de memórias individuais e coletivas que testemunham experiências e refazem continuamente a narrativa da vida. Entendendo ainda a autoficção como uma narrativa híbrida, conforme apontam Santiago (2008) e Klinger (2012), percebe-se que a autora se constrói discursivamente ao utilizar-se de uma narrativa em primeira pessoa que joga com o leitor, e que embaralha elementos autobiográficos e ficcionais em uma escrita autoficcional que se utiliza da subjetividade do relato para abordar ainda o importante período histórico brasileiro que foi a ditadura, em um ato político de luta contra o esquecimento.
Referências
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KLINGER, Diana. Escritas de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada etnográfica. 2ª ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.
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VIEGAS, Ana Cláudia Coutinho. O “retorno do autor” – relatos de e sobre escritores contemporâneos. In: VALLADARES, Henriqueta do Couto Prado. Paisagens ficcionais: perspectivas entre o eu e o outro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007.
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