MEMÓRIA E DESTERRO EM RIACHO DOCE: UMA LEITURA PSICANALÍTICA

Gabriel Loureiro Pereira da Mota Ramos, José Roberto de Luna Filho

Resumo


Este artigo apresenta uma leitura psicanalítica de Riacho Doce, romance escrito por José Lins do Rego. Centrando nosso interesse crítico no personagem de Edna, buscamos demonstrar como seu desejo, estruturado por um desterro metafísico, formula a própria condição moderna, responsável por afetar as personagens do romance, sobretudo a de Edna, em cujos problemas e conflitos a narrativa se centra. Assumindo, como ponto de vista crítico, a compreensão psicanalítica das subjetividades modernas, que são, de acordo com Lukács (2009), por assim dizer amaldiçoadas pela ânsia impossível por desejos autênticos, cuja ausência define a estrutura mesma da modernidade, argumentamos que esta condição se dá a ver na melancolia de Edna. É, portanto, a transformação de memória, melancolia e desterro em um dispositivo literário que confere modernidade estética ao romance, vista sobretudo nos desejos fragmentados dos personagens, em que é possível reconhecer os elementos constitutivos da individualidade moderna, tal como pensada, dentre outros, por Freud (2010, 2019, 2020) e Birman (2019, 2020).

Palavras-chave: Riacho Doce; José Lins do Rego; Psicanálise; Memória; Desterro.

DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v10i2.3144

 


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